
Cólica renal
Problemas associados: Litíase urinária |
Tratamentos associados: Ureterorrenoscopia semi-rígida com laser Cirurgia intra-renal retrógrada a laser (RIRS) Catéter duplo J Nefrostomia percutânea |
É um conjunto de sintomas (em que o principal é a dor no flanco/ dor lombar) devido a uma obstrução do ureter (canal que vai do rim à bexiga), geralmente provocada por um cálculo (pedra).
Os cálculos renais (pedras no rim) forma-se no interior do rim, onde podem permanecer durante muito tempo sem dar sintomas significativos, pois se trata de um espaço relativamente amplo. Porém, quando esses cálculos “descem” do rim para o ureter, que é um canal muito estreito (tem apenas 3 mm de diâmetro), provocam uma obstrução, impedindo a passagem da urina. Em resultado, a urina acumulada distende o sistema excretor do rim, ao mesmo tempo que o ureter tenta contracções vigorosas para tentar expulsar o cálculo. São estes dois efeitos que desencadeiam a dor tão forte que caracteriza as cólicas renais.
A manifestação mais frequente é a a dor no flanco, que é intensa e em cólica (tem períodos de maior agravamento). À medida que o cálculo desce ao longo do ureter, a dor desloca-se do flanco para o abdómen inferior e região inguinal, e eventualmente o escroto ou grandes lábios. Frequentemente, a dor é descrita como a “mais frequente jamais sentida” e pode associar-se a náuseas ou vómitos.
No caso de, para além da cólica renal, surgir mal-estar ou febre, isso é um sinal de que existe uma “cólica renal complicada”, por estar associada a provável infecção, o que requer tratamento urgente.
A menos que já tenha muita experiência com este problema, dificilmente conseguirá tratar uma cólica renal sem cuidados médicos. O tratamento inicial requer analgésicos fortes, geralmente dados por via injectável, pelo que é recomendado recorrer a um médico.
No caso de ter febre ou mal-estar, é obrigatório ser observado com urgência numa instituição hospitalar, pois pode ser necessário tratamento imediato.
- exames de imagem, para confirmar o diagnóstico e localizar o cálculo ou outro elemento que está a provocar a situação: ecografia, radiografia ou TAC
- exames laboratoriais (sangue e urina) para, entre outras coisas, para pesquisar sinais de infecção e ver como está o funcionamento dos rins
- A primeira prioridade é tratar a dor, requerendo numa fase inicial, analgésicos administrados por via endovenosa e/ou intramuscular. Depois de controlada a dor, é possível que se possa continuar o tratamento analgésico no domicílio, com medicação oral.
- Podem ainda ser utilizados fármacos que ajudam a relaxar o músculo dos ureteres, e facilitam a passagem dos cálculos – a chamada terapêutica médica expulsiva.
- A maior parte dos quadros de cólica renal simples podem ser tratados de forma conservadora, isto é , apenas com recurso à analgesia e terapêutica médica expulsiva. Isto porque muitos de cálculos de pequenas dimensões (até 5-6 mm) vão acabar por ser expulsos espontaneamente em poucos dias.
Cólica renal complicada : há casos mais complexos em que a intervenção de um Urologista é obrigatória:
Se existirem sinais clínicos ou laboratoriais de infecção, o tratamento é urgente ou emergente, sob pena de progressão para uma infecção mais grave como uma septicémia. Nestes casos, será necessário proceder à drenagem do tracto urinário por um dos seguintes métodos:
- Colocação de cateter uretérico (stent) de duplo J: um tubo flexível que fica entre o rim e a bexiga, e que é colocado através da via urinaria, ficando totalmente implantado no interior do seu corpo
- Colocação de uma cateter de nefrostomia percutânea: um tubo que é colocado por punção directa da área renal, com o apoio de ecografia. Fica no exterior, acoplado a um saco por onde sai a urina.
NOTA: Independentemente do método de drenagem, esta é uma situação transitória, pois alguns dias/semanas mais tarde será possível proceder à resolução definitiva da situação e à remoção destes dispositivos.
Se existirem sinais clínicos ou laboratoriais de insuficiência renal aguda, o que pode acontecer especialmente nas pessoas que já tinham deficiente funcionamento renal prévio (ex: por causa da diabetes ou hipertensão arterial) ou que têm obstrução de ambos os ureteres em simultâneo. Nestes casos também será necessário drenar o tracto urinário por um dos métodos acima referidos
Se, mesmo na ausência de infecção/ insuficiência renal, a dor for difícil de tratar com os analgésicos ou então se o quadro já se arrastar há mais de 2-3 semanas. Os rins não conseguem tolerar tanto tempo com uma obstrução, e a partir dessa altura, o orgão afectado começa a perder função de forma definitiva. O ideal nestes casos é proceder rapidamente a uma cirurgia endoscópica (ureterorrenoscopia semi-rígida com laser) para retirar o cálculo e resolver imediatamente a obstrução. Contudo, se tal não estiver disponível, deverá proceder-se à desobstrução através de um Catéter duplo J ou Nefrostomia percutânea, que são soluções temporárias até efectuar um tratamento definitivo mais tarde.
Sem medidas de prevenção, o risco de voltar a ter um novo episódio nos 5 anos seguintes a uma cólica renal é de 50%. Por isso, a prevenção é fundamental e passa, desde logo, por prevenir a lítase renal que lhe origem. São importantes medidas como:
- beber cerca de 3 L de água/líquidos por dia (esta é a medida mais importante)
- reduzir o consumo de sal
- praticar exercício físico regular
- perder peso
Wein, Louis R. Kavoussi, Alan W. Partin, Craig A – Campbell-Walsh Urology, 11th Edition, Elsevier 2015
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Dias, J – Urologia Fundamental na Pratica Clínica, Lidel 2011
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